Memórias de outras guerras 

 

Quando voltou da Itália, Ervin Riffel fez uso do seu direito de retornar ao trabalho na Indústria Renaux S/A, a IRESA. Passados alguns meses, Riffel estava insatisfeito com o trabalho na caldeira, e foi falar com o chefe da oficina mecânica, Max Ludin1, interessado em trabalhar naquele setor. Seu pedido foi atendido.

 

Riffel lembrou que, na época, os motores eram enrolados em Blumenau e eram mandados de volta pelos ônibus do Expresso Brusquense. Em uma dessas ocasiões, Max Ludin mandou Riffel ir buscar dois motores na rodoviária do Expresso Brusquense, que ficava defronte ao Estádio Augusto Bauer.

 

"Eu posso trazê-los de bicicleta?", perguntou Riffel.

"Não, eles são motores grandes!", alertou Ludin. "Tens que buscá-los de galhota."*

"Não".

"Por que tu não vais?"

"Porque eu não sou cavalo pra puxar carroça pela praça da cidade!"

 

Ludin desistiu de tentar convence Riffel a fazer aquele serviço. E saiu. Não demorou quase nada para que Riffel fosse chamado por Raul Gartner2, responsável pelo setor de pessoal da Iresa, e recebesse uma carta de advertência. Foi suspenso por três dias e alertado de que seria demitido, caso o episódio se repetisse.

 

"Eu peguei aquela carta e fui direto pro Sindicato. Eles tinham raiva do Sindicato! O Stotz tava lá, era advogado do Sindicato. O primeiro nome dele, eu não me lembro, ele era de Blumenau. Aí eu contei a história pra ele. Aí o presidente do Sindicato, o Moreton, disse pra ele: "Amanhã tu vai lá com o rapaz e vai acertar o negócio lá, na fábrica." Nós fomos. O João Bauer era o gerente. Conversamos com ele... "Não, tá bom. Então eu vou pagar os dias que o Riffel ficou em casa, e amanhã ele vem trabalhar. Tá bom assim?" "Tá bom". Aí nós saímos. Eu tinha que passar perto da oficina, aí só tinha um Imhof lá, o Marcelino Imhof3. Ele me viu passar e chamou. "Como é que foi o negócio lá?" "Ah, eu ganhei a questão, amanhã eu venho trabalhar. No outro dia, eu cheguei às 5 horas e comecei a trabalhar. Lá pelas 9 horas o João Bauer entrou na oficina, me chamou e disse: "Olha, Riffel, tu podes ir pra casa, tu não tens mais serviço aqui." Aí, eu disse: "Mas, como? Nós fizemos um acordo, ontem!" "Não, não! Tu não ganhaste a questão, nós fizemos um acordo!" Ele me mandou embora. Eles pagaram tudo direitinho e eu vim embora.

 

* Galhotas eram carrocinhas de duas rodas, usadas para transportar mercadorias. Eram vistas com frequência nas décadas de 1940 e 1950, puxadas por operários (transportavam máquinas, equipamentos e mercadorias).

 

ADAMI, Luiz Saulo; ROSA, Tina. Brusque vai à guerra: novas visões da história. Brusque: S&T Editores, 2007. p. 185-186.

 

1. Max Albert Ludin (*4.07.1901 +13.06.1990), casou em 11.02.1928 com Alvina Malossi, filha de Marcos Vicente Malossi e Maria Magdalena Imhof Malossi.

2. Raul Gartner (*6.05.1924 +19.07.1999), casou em 10.03.1951 com Elica Imhof, filha de João Imhof e Catharina Fischer Imhof.

3. Marcelino Imhof (Lino) (*15.07.1919 +7.10.1999), trabalhou durante muitos anos na IRESA - Indústrias Têxteis Renaux S/A., onde se aposentou. Pela sua competência e dedicação, foi promovido ao cargo de mestre (chefe) da oficina mecânica.